Dito 51 : Conversas nas Airas

Café das Airas


Conversa nas Airas
com Estoutevendo


De noreo nas Airas.
Buscando uma conversa,
estou lendo o jornal.
Marcho ja, merda! merda!.
Marcho pra Moradelha,
vou ir a tomar o sol.
Merda de jornal, meu Deus,
nom volvo mais a lé-lo !
Estoute !, vem aqui ho!
E nom me tenhas medo,
ainda nom comim ninguém.
Ja sei que falas pouco.
Tinha-me dito tua nai
que cobizache muito
ler e tamém escrever,
iso está bem, é certo ?
Quero dizer que tamém,
sabes escuitar logo.
Mira, liches o jornal ?,
viches a esses nenos ?,
tam cheios de feridas
por choutar dum valado,
que seica o pujo o demo.
Vam-o fazer mais alto.
Tamém algo mais longo,
uma gran parcelária
do Mundo tudo, Estoute !.
Será uma carcerária.
Ti que pensas, que dis, ho ?
Escusas dizer nada,
Ja falarei eu por ti.
Iso é uma putada !.
Mira, va que ti tamem
botarias uma man
a esses rapazinhos
que fugem da miséria ?
Va que ti tamem lhe
botarias uma man
a alguém que num lameiro,
enterrado estivera ?
Se fora um paxarinho
que do ninho caira,
uma aguinha nova,
que nom pode ainda voar.
Ti que farias, Estoute ?
levava-la contigo
ata que poida voar !,
estouche bem seguro.
E quando ja ela voe,
deixa-la em libertade
o seu jeito natural.
Nom parece um milagre !.
Mirar depois o ceo,
e ve-la majestuosa,
uma inveja do mundo,
nom seria alegria ?.
Uma gran águia negra,
voar no ceo ingráveda.
Viches algo mais belo,
cousinha mais senhorial.
Pois seica esso é prohibido,
prohibido pola lei.
Ti nom podes ajudar,
e se hai maneira nom sei.


Estavamos aqui nós
coronando coas flores,
da nosa primavera
e zas, venhem as dores.
Deixamos de coronar
por causa desse vírus.
gente maior que morre,
meu Deus a que nos veu.
Ja lho dizia o meu pai
à nai, quando ían ela
co carro e coas vacas :
Felicitas nom enchas
tantíssimo o carro,
que o subir a costinha
dos Cardedos, hai laje,
i entom esbarrará,
haverá uma desgraza,
quedaremos sem nada.
Ahi o tés Estoute !,
tal cual, ja esbarramos.
Estavamos nós eiqui
coronando coas flores
e agora coronamos
com todas estas dores.
E o pior está por vir,
agora sem a lenha,
o carro derramado
e as vacas moi feridas.
E estamos a punto
de que o carro caia
por riba de nós dous,
e espotreados quedar
para muito tempo, ho.
Muito pior ainda,
sem que sequera ninguém,
socorrer-nos poida


Total Estoute, mira !,
se ti traer quigeras
um raparigo desses
da verja, pra tua casa,
e ajuda-lo a vivir
dignamente contigo
e que te ajudara
e que fora teu filho,
pois nom poderia ser,
é cousa prohibida,
e nom se pode fazer,
é uma injustiza.
Bem mirado, se fora
cousa legal, seria
nova esclavitude,
esclavitude nova.
Quero aquel mais feitinho,
entendes ?, com mais corpo,
bem com respeito, claro,
nom é civilizado.
Ai Mundo, Mundo, Mundo !.
Oes, Estoute, escuita :
as cousas que tomaches
estanche todas pagas.
Pois so che faltava a ti,
que depois de aguantar-me
a parolada toda,
tiveras que pagar, eh !
Marcho pra Moradella
marcho a tomar o sol,
da recordos a tua nai
Ah ! e escreve muito !
Haver se um dia destes,
deixas-me ler algo teu,
porque o que escreves
alguém o lerá, digo eu !,
porque o que é falar,
chacho, bem pouco falas,
coida-te muito, neno
e fala mais, cona !


O Carro


Foto : / As Airas, Xullo de 2010


Moradelha editora




Publicacións populares deste blog

Dito 122 : De Ensenada aos nosos días

Dito 113 : Familias, casas e cousas (IX)

Dito 118 : Familias, casas e cousas (XIV)

Dito 121 : O mellor e único amigo do Tolo

Dito 115 : Familias, casas e cousas (XI)

Dito 106 : Familias, casas e cousas (IV)

Dito 112 : Familias, casas e cousas (VIII)

Dito 87 : O que se sabe e o que se supón que poido pasar

Dito 116 : Familias, casas e cousas (XII)

Dito 117 : Familias, casas e cousas (XIII)