Dito 53 : Conversas nas Airas (2)
Café das Airas
Conversas nas Airas
com Estoutevendo (2)
Um erro
Oes Estoute, que tal, ho ?,
eu andava perguntando,
precisamente agora
por ti, para um conselho.
Aqui nom che tenho a ninguém
a quem poder falar-lhe bem.
Uns jogando ò dominó
e outros à brisca de tres.
E nom hai com quem falar, ho !,
os que nom jogam às cartas,
miram aos outros a jogar
e nom tenho com quem falar.
Os que nom che fam de guichóns,
falam dumha berza branca,
numha conversa algo podre.
Que se lhe ponho lenguiza,
que se é mellor com naviza.
Ja che o digo cousa ruim.
Tamém fálanche do vinho,
que se o tinto para o polbo,
que se eu prefero o branco.
Ja ves, cadaum ò seu vai.
Um remexo de jantares.
Entom, esperava por ti.
Mira !, liches ja o jornal ?
Si !, logo mira que rebem !.
Resúltache que o governo
errou, nom o figerom bem !.
Que che pareceu a cousa ?,
despois de deixar a Madrid
sem lhe pechar as suas portas,
e agora dínche assim.
Que nom se vía o perigo,
como é que nom pecharom !
Meu Deus, foi uma imprudenza,
com tanta gente morrendo.
Agora venhem a dizer
que seica vam retificar.
Imos ver, haver se o fam,
Queira Deus nom volvam errar.
O errar, Estoute, errar
é noso martirio, peró,
sabendo administra-lo,
noso erro pode ser bo,
pero claro, so se o ves,
e entom retifica-lo
se podes, assim aprendes.
Aprendiches porque viche-o.
Sem poder retifica-lo,
o conto entom é outro,
e queda cocendo a cousa
e levara-lhe seu tempo.
Mais, se ti nom ves o erro,
e tampouco tés a ninguém
que che diga que erraches,
que se pode, entom fazer ?
Pois estamos perdidos, ho !.
E se o teu é moi grave,
entom estás bem acabado,
de por vida cargas com el.
Ademais nunca saberás
porque cambeavam cousas.
Algunhas que arredor de ti,
de súpeto cambeam.
Sabes que, amigo Estoute ?,
eu vigio muito cos erros,
aprendes deles, peró ai !,
poderias colher medo.
Ti que che gosta tanto ler,
saberás que hai escritores
que vivirom muita pena.
Os seus erros eram dores,
e foram os erros deles
o que mais lhes coitava,
o que mais lhes angustiava,
nom podiam coas suas mágoas.
viviam sempre as suas penas,
escrevindo cheios de bágoas,
sempre com melancolia,
por uns erros que nom viram.
Ahí está Rosalia,
as que ela pasaria ?,
se com pena escrevia,
que desamores teria.
Poidera ser um mal paso,
daqueles que doen na alma.
Ou um amor impossível,
feridas que nom se pecham.
Ou o mesmo Xoan da Cruz,
que pasou com sor Teresa,
pra escrevir com tanto pesar
que sempre morrer queria.
Se òs erros se lhe suman
desgrazas, coma as tivera
Rosalia, cos seu filhos,
entom sai a pena maior.
Se depois sabes escrever
co talento que tinha ela,
saem aquelas palabras
que che roem as entranhas.
Gardunham o teu coraçom
e o de qualquer dos mortais.
Saem dum corpinho acoitado
cravos ardendo e punhais.
Esses som uns sentimentos
rachados cuma navalha,
que saem a fora cuma dor,
que nai das dores parira.
Xoan da Cruz,pobre, Estoute.
Un mártir duma gran pena,
votando lume suas verbas,
palabras que do além vinham,
que saiam-lhe dum corpo
feitizado por um amor,
que daquelas impossível.
Era um vivo peró morto.
Uma mala interpretaçom,
uma mala explicaçom
ou qualqer mal entendido
pode ser uma perdiçom.
Cuma nota errada, Estoute,
nom tocas bem a melodia.
Senom atopas o erro
Senom atopas a nota,
é impossível faze-lo,
sem retificar o erro,
e escuitar e escuitar,
uma e outra, ata ve-lo.
Senom das visto o erro,
entom, ja estás perdido.
Senom atopas a nota,
ja nom darás aprendido.
Hai que falar algo , Estoute.
Hoje falaches bem pouco.
Rabia, pareces Monea !,
acenando ca testa, ho.
Bem, os Moneas si falam,
nom coma ti, peró está bem,
ti és um bom escuitador,
pouco a pouco imos indo, eh!.
Ah !, o de hoje te-lo pago,
peró esi que tal, ponho-te
censura, se nom falas mais.
Bem eu marcho, baixo do tren.
Vou ò sol da Moradelha.
Da muitos recordos a nai,
di-lhe que me convide a
caldo de navizas, se fai.
Tua nai fai tam bem o caldo,
sabe que rabea, chacho.
Eu ja lho tenho probado,
a mim cobiza-me muito.
-- o --
Foto : / As Airas com Balbino Durma, Antonio Petolo,
José da Moradelha, Ernesto Sardinheiro e
Manolo Reza.
9 de Outubro de 2009.
Moradelha editora